sexta-feira, 10 de junho de 2011

O INFERNO NA C.E.U., por Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB

Presente em: http://www.miraculoso.com.br/index.php/pt/unb/75-o-inferno-na-ceu.html

O INFERNO NA C.E.U.


A invasão da Casa do Estudante Universitário pela polícia militar no dia 3 de junho de 2011 encerra várias lições:


1) Se DESAFIADO, o Reitor José Geraldo de Sousa Júnior, chama a polícia;
2) Se institucionalmente IMPERATIVO, o Reitor José Geraldo de Sousa Júnior, chama a polícia;
3) Se os estudantes ameaçarem os PLANOS DE OBRAS do Magnífico Reitor, ele chama a polícia.
Contudo, ao que tudo indica, o caso da retirada dos estudantes da Casa do Estudante nem era de polícia, nem era de desafio, nem era imperativo institucional - mas realmente era uma AMEAÇA aos ambiciosos Planos de Obras do Reitor. O homem quer seu nome em tantas plaquinhas de obras quantas possa deixar.
A Casa do Estudante da UnB, por outro lado, é um nodo de tensão antigo, e nem o governo militar conseguiu lidar com essa tensão de forma tão desastrosa e incompetente quanto as Reitorias Democraticamente Eleitas.
Em resumo: a Casa do Estudante da UnB é uma espécie de Senzala Universitária, onde a política é feita pela polícia, pelo menos na gestão do jurista José Geraldo de Sousa Júnior. A lenha por lá corre bem rápida nos costados dos moradores. As imobiliárias de Brasília estão a admirar-se do padrão UnB de eliminação de inquilinos indesejados. "Isso é que é um senhorio!" Polícia neles!!!
Na gestão de Mulholland, quando houve a agressão racista contra os estudantes africanos (2007), tratou-se da eclosão da violência latente, lentamente acumulada por anos de destratos e desatenção à C.E.U.. Eu critiquei publicamente a falta de sensibilidade do Reitor Psicólogo diante do drama humano que parecia ignorar.
Como professor, presidi (na gestão Morhy) uma comissão de sindicância que apurou violência anterior a essa, envolvendo o tráfico de drogas, bullying, agressão a alunas moradoras, apropriação privada de espaços públicos, formação de quadrilha, envolvendo parte daqueles estudantes, no começo da década de 2000. Os estudantes violentos são conhecidos por todos, e não podem ter lugar na C.E.U. A comissão que presidi propôs a sua expulsão da UnB, e não conseguiu, graças aos panos quentes do então vice-Reitor.
Contudo, a massa dos estudantes moradora da C.E.U. é tratada de forma que dificilmente chamaríamos de “atenta”, “respeitosa”,” adequada”.
Os diagnósticos sócio-comportamentais da C.E.U. não parecem servir a nenhuma ação substantiva da Reitoria: os investimentos em biblioteca, farmácia, comércio local, banca de revistas, atendimento médico local, e em tantos outros serviços que a UnB deveria proporcionar à C.E.U. e ao C.O. (Centro Olímpico) são negados, dificultados, postergados. Carência não se trata com violência!
Agora, essa reforma, a grande reforma da C.E.U. Se durar tanto tempo quanto a reforma das piscinas do C.O., a falta total de prioridade já demonstrada por sucessivas gestões da UnB quanto ao acolhimento dos estudantes carentes deve paulatinamente varrer esses estudantes da elitista UnB. Eterna Reforma, digo eu. Eterna enquanto dure. Quando os estudantes voltarem, SE voltarem, a C.E.U. estará melhor?
Finalmente: chamar a polícia para expulsar estudantes... não passa de ato coerente com a péssima gestão da UnB na atualidade. Cria-se o Inferno na C.E.U., e o Reitor cada vez mais perde credibilidade. Não é assim que a Residência Universitária deve ser melhorada nem administrada.

Frederico Flósculo Pinheiro Barreto, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UnB




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